30/01/2009
Arcebispo Lefebvre e Vaticano II
O Concílio à luz da tradição?
Por John Vennari
Agora que os “excomunhões” foram retiradas dos quatro Bispos da FSSPX, seria sábio exprimir novamente a posição da FSSPX a respeito do Concílio Vaticano II.
Pouco depois do Bispo Bernard Fellay, superior geral da Sociedade St. Pio X, ter tido uma audiência confidencial com o Papa Bento XVI em agosto, 2005, Bispo Fellay fez o seguinte comentário: “Bento XVI apontou que só se pode haver um modo de pertencer à Igreja Católica: i.e., tendo o espírito do Vaticano II interpretado à luz da tradição, querendo dizer, com as intenções dos Padres do Concílio e a letra do texto. Esta é uma perspectiva que nos amedronta.” 1
É compreensível que a FSSPX ache isso amedrontador, pois é questionável se o Vaticano II pode ser interpretado à luz da tradição. Eu sou um dentre os muitos que acreditam que não pode realìsticamente ser feito, nem penso que deva ser tentado. Parece-me impossível separar os verbosos e ambíguos textos do Vaticano II do espírito revolucionário que inspirou os textos - um espírito não-Católico do liberalismo que foi condenado por cada Papa antes do Vaticano II.
De fato, aqueles “conservadores” que negam que os vários pontos de Vaticano II constituam uma ruptura com tradição e com declarações Magisteriais precedentes - pelo menos pela ambigüidade, pelas implicações e pelas omissões - falharam em não escutarem os movedores e balançadores do Concílio que abertamente os reconheciam.
Yves Congar, um dos artesões da reforma, relembrou com boa satisfação que “a Igreja obteve, pacificamente, sua revolução de outubro.”
O mesmo Padre declarou que a 'Declaração da Liberdade Religiosa' do Vaticano II é contrária ao Syllabus do Papa Pius IX. A respeito do Artigo 2 da declaração, disse: “Não se pode negar que um texto como este diga materialmente algo diferente da Syllabus de 1864, e até quase o oposto das proposições 15 e 77-79 desse documento.”
As indicações tais como estas conduzem o Padre Gregory Hesse observar frequentemente, “como eu poderia aceitar os documentos que nenhum Papa ou Bispo do século XIX assinariam?”
Contudo, todo grupo tradicionalista que é "reconciliado” com Roma pós-Conciliar tem que concordar em aceitar o Vaticano II; um ato que eu acredito ser suicida, porque sempre neutralizam o grupo em sua luta contra o Concílio e seu progressivismo destrutivo. Eu não tenho conhecimento de nenhuma exceção. Por exemplo, eu não conheço nenhum “aprovado” grupo Tridentino que publicou os livros ou os livretos equivalentes a Iota Unum, Si Si No No, ou 'They Have Uncrowned Him' do Arcebispo Lefebvre.
O que é escrito aqui não é pretendido ser um tratamento definitivo se o Vaticano II pode ou não ser interpretado à luz de Tradição.2 Eu penso, entretanto, ser de valor endereçar a noção que os católicos tradicionais não devem hesitar aceitar o Vaticano II à luz da tradição, dado que o tradicionalista Arcebispo Lefebvre assinou os documentos do Concílio. Logo, seguindo esse raciocínio, não se pode ter muitos erros em seus textos.
Os fatores, entretanto, são um pouco mais complexos, que eu demonstrarei em quatro rápidos pontos:
1) O Arcebispo e o Grupo Internacional de Padres no Vaticano II lutaram contra a orientação liberal do Vaticano II durante todo o Concílio, e sim, eles foram bem sucedidos em fazer os documentos melhores do que seriam caso não intervissem. A questão básica, entretanto, é que Arcebispo Lefebvre estava bem ciente do espírito liberal que tomou conta do Concílio mesmo antes dele começar.3
2) O Arcebispo Lefebvre, como muitos outros prelados naquele tempo, sentiu-se sob uma pressão moral em assinar os documentos. Arcebispo Lefebvre era um homem com uma longa carreira de serviços prestados ao papado. Ele era Delegado Apostólico na África (de língua Francesa) e tinha trabalhado próximo ao Papa Pio XII. À luz desta devoção filial a Santa Sé, o Arcebispo disse que se viu “moralmente obrigado a assinar” o documento já que o Papa havia assinado.4
3) Anos após o Vaticano II, ele disse que naquela altura do Concílio, de alguma forma, ele se encontrava demasiadamente otimista. Aqui ele se refere a uma declaração que fez ao final do Vaticano II. Em 1965, imediatamente antes da quarta e última sessão, ele publicamente declarou sua crença que apesar do que havia se passado no Concílio, e apesar do “magisterium” progressista no Concílio, no qual havia causado tanto dano, “A Igreja na pessoa do sucessor de Pedro ainda não substituiu o Magistério tradicional com este novo, e nem a Igreja de Roma… A maioria dos Cardeais e especialmente os Cardeais da Cúria,… não olham para o novo magistério. Nem a colegialidade nem a mal-concebida liberdade religiosa, aonde ambas são contrárias à doutrina da Igreja, sucederão.”
Em outras palavras, ele nunca sonhou que o liberalismo desastroso inerente no Vaticano II seria realmente promovido pelo Papa e pela Cúria Romana como a política da Igreja.
Mais de duas décadas passadas, ao reler suas palavras de 1965, o Arcebispo Lefebvre disse, “Eu admito que o otimismo que eu mostrei a respeito do Concílio e do Papa era mal fundado. ” 5
4) Até o dia de sua morte, nunca consentiu formalmente aceitar o Vaticano II “à luz da tradição” .6 Ele lutou firmamente contra a revolução do Vaticano II sem compromissar até seu último suspiro.Isso é um bom modelo para nós.
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Notes:
1 2005 DICI Interview.
2 I treat this topic in much more detail in my talks: “Vatican II: The Best Council the Protestants Ever Had; “The Tiber Flows Into the Tiber: Who was Really Responsible for the Progressivist Takeover of Vatican II?”, and “The Oath Against Modernism vs. the ‘Hermeneutic of Continuity'” (on DVD and CDs respectively)
3 For an in depth look at Archbishop Lefebvre’s activities at Vatican II, as well as the many problems with the Council, see The Biography of Marcel Lefebvre, Bernard Tissier de Mallerais [Kansas City: Angelus Press, 2004], particularly Chapter 12: “In the Turmoil of the Council” and Chapter 13 “Herald of Christ the King”.
4 Ibid, p. 312.
5 Ibid., p. 331.
6 Though Archbishop Lefebvre had signed the 1988 Protocol, he felt uneasy from the moment he signed it and withdrew his signature within 24 hours, never to sign another.
Fonte original: Catholic Family News
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