05/05/2009

Carta do Superior Geral Nº 74 aos amigos e benfeitores

Queridos amigos e benfeitores:


Quando lançamos uma nova cruzada do Rosário com ocasião de nossa peregrinação a Lourdes em outubro passado, não contávamos, certamente, com ma resposta tão rápida do Céu ao nosso pedido. Com efeito, assim como sucedeu com nossa primeira petição, à qual Nª Senhora tinha respondido tão eficazmente por meio do Vigário de Cristo e deu Motu Proprio sobre a Missa tradicional, quis Nª Sra conceder-nos uma segunda graça ainda mais rapidamente: no transcurso de uma visita a Roma em janeiro, quando entreguei o ramalhete de 1.703.000 terços rezados pelas intenções do Sumo Pontífice, recebia das mãos do Cardeal Castrillón Hoyos o decreto de remissão das “excomunhões”.

Tínhamos pedido desde 2001 como sinal de boa vontade da parte do Vaticano para com o movimento tradicional, porque desde o Concílio tudo o que é e quer ser tradicional na Santa Igreja sofre uma perseguição atrás da outra, ato o ponto de negar-lhe o direito de cidadania. Isto, obviamente, destruiu em parte ou completamente a confiança nas autoridades romanas. Enquanto esta confiança não for parcialmente —dizia então— nossas relações seguiriam mínimas.

A confiança não é somente um bom sentimento; é o fruto que nasce naturalmente quando vemos nestas autoridades os pastores que têm em conta o bem de tudo o que chamamos “a Tradição”. E nossos pré-requisitos foram formulados neste sentido.

É impossível, de fato, compreender nossa posição e nossa atitude frente à Santa Sé se não se quer incluir a percepção do estado de crise em que se encontra a Igreja. Não se trata de algo superficial nem de uma visão pessoal. Estamos diante de uma realidade independente de nossa percepção, admitida de vez em quando pelas mesmas autoridades e comprovada muitas vezes pelos fatos. Esta crise tem muitos aspectos, variados, em ocasiões profundas, outras vezes circunstanciais e todos nós a sofremos.

Os fieis se sentem mal impressionados pelas cerimônias da nova liturgia —que com freqüência são escandalosas— e pela pregação habitual, que no campo moral, se ensinam coisas completamente contrárias à doutrina multissecular da Igreja e do exemplo dos Santos. Freqüentemente os pais de família tiveram que comprovar, com enorme dor, a perda da fé de seus filhos confiados a institutos católicos de formação, ou lamentar sua quase total ignorância da doutrina católica por falta de um catecismo sério. Um número incalculável de religiosos, depois das revisões de suas Constituições e da reciclagem post-conciliar, manifesta uma perda do espírito evangélico, em particular do de renúncia, a pobreza e o sacrifício; perda que teve como conseqüência quase imediata uma diminuição tal de vocações que muitas Ordens e Congregações fecham seus conventos um depois do outro ou simplesmente desaparecem. Em muitas dioceses a situação é igualmente dramática.

Tudo o que foi dito constitui uma unidade coerente e não aconteceu por casualidade, mas depois de um concilio que quis ser reformador, adaptando a Igreja ao gosto da época. Somos acusados de ver uma crise onde não há ou de atribuir falsamente a este concilio conseqüências que, a pesar de tudo, são desastrosas, extremadamente graves e que qualquer pessoa pode comprovar, ou ainda de aproveitar esta situação para justificar uma atitude incorreta de rebelião ou de independência.

No entanto, tomemos os textos dos Santos Padres da Igreja, do Magistério, da liturgia, da teologia, ao longo de todos os tempos e acharemos uma unidade à qual aderimos de todo o nosso coração. E esta unidade doutrinal é fortemente contradita pelas linhas de conduta atuais. Nós não inventamos uma ruptura; infelizmente ela existe com clareza. Basta ver o modo como nos tratam alguns episcopados, inclusive depois que retiraram o decreto das excomunhões, para comprovar o quanto é profundo o repúdio dos modernistas diante de tudo o tem sequer uma aparência de Tradição, a tal ponto que é impossível não dar a este repúdio o nome de ruptura com o passado.

Sim, do mesmo modo que nos surpreendemos pela publicação do decreto do dia 21 de janeiro, assim também pela violência da reação dos progressistas e da esquerda em geral contra nós. É verdade que encontraram a desejada oportunidade nas pouco felizes declarações de Dom Willamson e através de uma injusta amalgama, puderam maltratar nossa Fraternidade como um bode expiatório. Na realidade fomos um simples instrumento na luta muito mais importante: a da Igreja, que com razão leva o título de “militante”, contra os espíritos perversos que infestam os ares como diz São Paulo.

Certamente, não hesitamos inserir nossa história na grande história da Igreja, na dessa luta titânica pela salvação das almas já anunciada no Gênesis e descrita de modo cativante no Apocalipse de São João. Com freqüência esta luta se mantêm a nível espiritual, às vezes, passa da esfera dos espíritos e das almas à dos corpos e se transforma em visível, como nas perseguições abertas.

Através do que aconteceu nestes últimos meses é preciso reconhecer um momento mais intenso desta luta. E é muito claro que aquele que está na mira é o Vicário de Cristo, no seu empenho de iniciar uma certa restauração da Igreja. Teme-se por uma aproximação da Cabeça da Igreja e o nosso movimento, teme-se uma perda dos resultados do Vaticano II, e se põem tudo em movimento para neutralizá-la. O que pensa o Papa realmente a este respeito? Onde ele se situa? Os judeus e os progressistas lhe exigem que escolha: ou eles ou nós… a ponto de que a Secretaria de Estado não teve melhor idéia do que pôr como condição necessária para nosso reconhecimento canônico, a aceitação completa do que consideramos como a fonte principal dos problemas atuais e aos quais nos opomos sempre…

Tanto eles como nós estamos obrigados ao juramento antimodernista e submetidos às outras condenações da Igreja. Por isso não aceitamos abordar o Concílio Vaticano II a não ser sob a luz destas declarações solenes (profissões de fé e juramento antimodernista) feitas diante de Deus e da Igreja. E se aparece uma incompatibilidade, então necessariamente o errado são as novidades. Contamos com as discussões doutrinais anunciadas para por estes pontos em evidência o mais profundamente possível.

Aproveitando da nova situação depois do decreto sobre as excomunhões, que não mudou em nada a situação canônica da Fraternidade, muitos bispos tentam impor-nos um círculo quadrado, exigindo uma obediência à letra do Direito Canônico, como se estivéssemos perfeitamente regularizados, quando, ao mesmo tempo, nos declaram canonicamente inexistentes! Um bispo alemão já anunciou que antes do fim do ano a Fraternidade voltará a estar fora da Igreja… Perspectiva encantadora! A única solução possível, além do que é a que tínhamos pedido, é a de uma situação intermediaria, inevitavelmente incompleta e imperfeita a nível canônico, mas que seja aceita como tal, sem jogar no nosso rosto a acusação constante de desobediência e rebeldia, e sem impor-no proibições intoleráveis; porque, a fim de contas, o estado anormal em que se encontra a Igreja e que nós chamamos “estado de necessidade” volta a ser demonstrado pela atitude e palavras de certos bispos em relação ao Papa e a Tradição.

Para aonde caminharão as coisas? Não sabemos. Mantemos nossa proposta de que se aceite a nossa posição atual imperfeita como provisória, abordando finalmente as discussões doutrinais anunciadas e esperando que alcancem bons frutos.

Num caminho tão difícil, diante de oposições tão violentas, lhes pedimos queridos fiéis recorrer à oração mais uma vez. Achamos que é o momento indicado para lança uma ofensiva de maior envergadura, profundamente enraizada na mensagem de Nossa Senhora de Fátima, na que Ela mesma promete um resultado feliz, pois que anunciou que ao final o seu Imaculado Coração triunfará. Nós lhe pedimos este triunfo através dos meios que Ela mesma pediu: a consagração, pelo Pastor Supremo e todos os bispos do mundo católico, de Rússia ao seu Coração Imaculado, e a propagação da devoção ao Seu Coração Doloroso e Imaculado.

Por isso nós queremos Lhe oferecer com este fim, daqui até o dia 25 de março de 2010, um buquê de 12 milhões de terços, como uma coroa de outras tantas estrelas à sua volta, acompanhado de uma suma equivalentemente importante de sacrifícios quotidianos que nós teremos o cuidado de realizá-los principalmente no cumprimento fiel do nosso dever de estado, e com a promessa de propagar a devoção ao seu Coração Imaculado. Ela mesma apresenta isto como o fim das suas aparições em Fátima. Estamos intimamente persuadidos de que se seguimos com atenção o que Ela nos pede, alcançaremos muito mais do que não ousaríamos esperar, e principalmente que nós asseguramos nossa salvação aproveitando das graças que Ela prometeu.


Pedimos, portanto aos nossos padres também um esforço particular para facilitar aos fiéis esta devoção, pondo o acento não somente na comunhão reparadora dos primeiros sábados do mês, mas também movendo os fiéis a viver uma intimidade mais profunda com Nossa Senhora, consagrando-se ao seu Coração Imaculado. Seria conveniente conhecer melhor e aprofundar a espiritualidade do grande arauto da Imaculada, o Padre Maximiliano Kolbe.

Neste ano cumprimos 25 anos da consagração de nossa Fraternidade ao Coração Imaculado. Nós queremos renovar esta feliz iniciativa do Padre Schmidberger pondo aí toda nossa alma e reavivando no nosso coração este espírito. É evidente que não temos a intenção de indicar à Divina Providência o que Ela deveria fazer; mas, nos exemplos dos Santos e da própria Sagrada Escritura vemos que os grandes desejos podem precipitar de maneira impressionante os desígnios de Deus. É com esta audácia que hoje confiamos esta intenção ao Coração Imaculado de Maria, pedindo-Lhe que nos receba a todos sob a sua maternal proteção. Que Deus os abençoe abundantemente!

Na festa da Ressurreição gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo,

+ Bernard Fellay

Winona, Páscoa de 2009

http://www.fsspx-sudamerica.org/secciones/carta74portu.html

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