Nossa reação imediata a tal questão é emocional: de raiva ou frustração em concordância de que a assistência á Missa Nova é incompreensível e pecaminosa; ou de compaixão, em concordância de que parece impossível que milhões e milhões de Católicos que assistem a mesma todos os Domingos, estejam pecando todas as vezes que a atendem. Nos dois casos consideram-se primariamente a moralidade subjetiva -a intenção da pessoa- antes de considerar a moralidade da ação, que é determinada pela razão do ato em si.
Se você abrir o Catecismo Tradicional, encontrará uma definição da Missa, como essa do Padre Connel's (Baltimore Catechism #3): "A Missa é o sacrifício da Nova Lei na qual Cristo, através do ministério do Sacerdote, oferece Si Próprio á Deus de forma incruenta (sem derramento de sangue) nas aparências de pão e vinho." Não é apenas o mais elevado ato de adoração possível, sendo o ato do Próprio Cristo, mas um sacrifício no real e completo senso do termo, e consequentemente o rito possui quatro finalidades: adoração, acção de graças, propiciação, e impetração. Note que nestas quatro finalidades, propiciação é a única que é própria para Missa como sacrifício, não sendo apta assim de ser efetivamente realizada de nenhuma outra forma.
Agora a pergunta é simples. A Missa Nova alcança a finalidade para qual ela existe? Se sim, então é boa, e como boa, devemos assistí-la; Se não, então é ruim/má, objetivamente e materialmente um pecado oferecê-la ou atendê-la, mesmo que isso seja feito para cumprir o preceito dominical.
Você objetaria dizendo que o termo ruim/má não poderia ser aplicado num ato de adoração, pois todo ato de adoração tem ao menos alguma verdade e algumas outras coisas boas. É impossível ser toda ruim/má como a conotação parece indicar, é aqui que reside um grande desentendimento. O conceito de ruim/má é uma noção analógica. Isso significa que há algumas coisas comuns para todas as coisas que são ruins/más, mas há um mundo de diferenças entre os tipos de males, há o mal físico e o mal moral. Há algo em comum, mas a diferença é maior que a semelhança. A doença é um mal, mas não como o mal de contar mentiras; a poluição é um mal, mas não como o mal de um assassinato/aborto.
O que é comum entre todos os males? A definição do mal, dada por teólogos morais, é muito simples: o mau é a privação de um bem que nos é de direito. Não é somente uma abstenção, mas uma abstenção de um bem que deveria nos ser dado. A doença é um mal físico, pois o corpo deve ser saudável. O pecado é um mau moral, pois a alma deve ser pura e agradável á Deus.
Quando o termo "mau" é aplicado á Missa Nova, refere-se a Missa como um ato litúrgico, nomeado como uma assembléia de cerimônias e orações moldadas num todo. E como tal, tem como finalidade, expressar em suas orações e cerimônias litúrgicas a realidade da Missa como é definida pela doutrina Católica; que é a reincenação incruenta do sacrifício de Cristo na Cruz para as quatro razões: de adoração, ação de graças, expiação e petição, para a maior glória da Santíssima Trindade. As cerimônias da Missa são, pela sua própria natureza, simbólicas. Elas são símbolos (de uma realçada realidade) que representam e são plubicamente solenes; profissão completa de nossa Fé Católica.
A Missa que falha em expressar o completo ensino Católico concernente ao sacrifício, como tem que ser, estará faltando um elemento essencial. Ela manifestamente sofre a privação de um bem que lhe é de direito. Ela não é o que uma Missa deve ser e não consegue alcançar seu propósito. Ela é simplesmente má, e a privação do bem que lhe é de direito é encontrada na assembléia de cerimônias e orações da própria Missa. Isso não significa que tudo nela seja ruim ou que ela seja inválida. Isso também não é um julgamento na intenção do padre ou dos atendentes, nem que graças não possam ser alcançadas por ambos. A afirmação que a Missa Nova seja um mau é uma declaração objetiva na qual esse ato litúrgico como tal, não professa adequadamente a Fé ou alcança seu fim. Ou ainda como os Cardeais Ottaviani e Bacci colocam:
A Missa do Novo Ordo... representa, como um todo e em seus detalhes, um tremendo afastamento da Teologia Católica da Missa como formulado na Sessão 22 do Concílio de Trento. Os "cânones" do rito definitivamente fixados então, ergueram uma insuperável barreira contra qualquer heresia que poderia atacar a integridade do Mistério. (Ottaviani, 25 de Setembro 1969)
O fato da Missa Nova ter sido formulada de tal maneira a ser aceitável aos teólogos protestantes que participaram dela, não significa que ela seja necessariamente herética. Ela é simplesmente ambígua. De qualquer forma, a abstenção de uma clara profissão da Fé Católica, que lhe é de direito, torna-a ruim. O mesmo se dá em relação á sua validade. O fato dela ser má não significa que ela seja, necessariamente, inválida. O padre pode ter a intenção de fazer o que a Igreja faz e celebrá-la validamente, mesmo que as orações da Missa Nova não expresse adequadamente a intenção, assim como certamente ela não expressa mesmo.
Tendo estabelecido a Missa Nova objetivamente como ruim/má, segue-se necessariamente que a celebração ou assistência á mesma será uma desordem, oposta á vontade de Deus e, portanto, um pecado. Ela é um pecado contra a virtude da Religião, um pecado de sacrilégio, que atenta dar glória á Deus através de uma cerimônia que não é verdadeiramente, em si mesma, para Sua glória. Essa colocação parece-nos chocante porque nós associamos sacrilégio com o deliberado e voluntário pecado mortal de uma comunhão mal feita, por exemplo. Como quer que seja, o mal tratamento das coisas sagradas possuem graus, e pode haver pecados veniais de sacrilégios em que a desordem não é tão grande como numa comunhão sacrílega. Uma Missa Nova que é inválida, por seu defeito na forma, intenção ou matéria, é certamente e objetivamente um grande sacrilégio e pecado mortal. Já a Missa Nova que for celebrada com alguma reverência e certeza validade, não será um sacrilégio grave como o de um pecado mortal. Continuam tendo desordem e desprezo ao Todo Poderoso nas prórpias cerimônias, mas não de maneira grave. Esse é o caso de uma relativamente reverente e conservadora Missa Nova, aonde o "por todos" e a comunhão na mão são excluídos. Assitir tais Missas é um pecado venial de sacrilégio. Nós não temos o direito de fazer isso, assim como não temos o direito de cometer qualquer pecado venial, nem mesmo para satisfazer um preceito da Igreja.
Nós podemos resolver, agora, a questão da moralidade subjetiva de uma maneira menos emocional. Não é só porque as Missas Novas são irritantes e chatas que recusamos atendê-las, mas porque sabemos que elas são erradas, porque destroem a Fé; e tendo esse entendimento da moralidade objetiva, nós somos obrigados a seguí-la em consciência. No entanto, nós não faremos julgamentos de culpabilidade subjetiva ou pessoal dos padres ou fiéis que continuam celebrando ou assistindo a Missa Nova. Eles podem não estar cientes da desordem e do mau, ou pelo menos, não o suficiente. Suas conciências não estão bem formadas suficientemente. Pode ser que não seja por suas próprias culpas, e é por esta razão que não podemos afirmar que todos aqueles que celebram ou assistem a Missa Nova cometem pecados veniais.
Padre Peter Scott.(Angelus Julho 2009)