Fonte: Site Mosteiro da Santa Cruz e também divulgado pelo SPES.
É PRECISO “COLOCAR O DEDO NA FERIDA”[1]
Arsenius
Como o senhor encara a situação em que se encontra atualmente a Igreja?
Na consideração dessa situação tomamos[2] como guia Dom Marcel Lefebvre:
1° Porque ele era um membro da hierarquia e, portanto, pertencia à Igreja docente.
2° Porque seus conhecimentos filosóficos e teológicos eram do mais puro catolicismo, visto ser ele doutor em teologia e em filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana no tempo do Papa Pio XI.
3° Porque sua vida foi de uma santidade incontestável, inatacada até mesmo pelos seus inimigos. E essa santidade nos dá uma garantia de perfeição da sua prudência e, portanto, do seu juízo prudencial.
4° Porque ele conheceu a Igreja nos tempos anteriores ao Vaticano II, esteve neste Concílio e presenciou as mudanças operadas após o mesmo. Conversou pessoalmente com vários Papas, tratou com vários Chefes de Estado e foi superior de toda uma Congregação religiosa em que havia vários bispos submetidos a ele. Além disso, era tido na maior estima do Papa Pio XII.
Por todos esses motivos, cremos ser Dom Lefebvre uma referência segura para sabermos como devemos proceder e julgar os acontecimentos atuais.
Mas não é perigoso tomar uma pessoa como referência, sendo Nosso Senhor Jesus Cristo a única referência para todo católico?
Com efeito, só a Nosso Senhor Jesus Cristo podemos seguir incondicionalmente; mas Ele mesmo quis que recebêssemos Sua doutrina através de outros homens. Por isso, à medida que temos fiéis transmissores dessa doutrina, devemos confiar neles, especialmente quando possuidores de garantias como as que citei, que se encontram em Dom Lefebvre.
Ademais, devemos estar conscientes de que nem todos os que têm o dever de estado de serem os fiéis transmissores da doutrina de Nosso Senhor o são realmente. Daí a necessidade de um discernimento acurado, de modo especial nos dias de hoje, para saber em quem podemos confiar.
Tendo vista o critério que o senhor propõe seguir, volto à primeira pergunta: como encarar a situação em que se encontra atualmente a Igreja?
A história é mestra da vida. Só compreenderemos convenientemente essa situação se estivermos ao par dos seus acontecimentos históricos.
Assim, é preciso saber que desde o século XIX havia no seio da Igreja homens aos quais o Papa Pio IX qualificou como os piores inimigos da Santa Igreja e que eram chamados de “liberais”, cuja característica mais marcante era a de, estando em meios católicos, agirem e falarem como católicos, mas estando em meios mundanos e/ou anticatólicos, agirem e falarem como mundanos e anticatólicos. Defendiam, sobretudo, a separação entre a Igreja e o Estado. Depois, esse mesmo espírito de liberalismo gerou uma doutrina herética: o modernismo, que será condenado, já no século XX, pelo Papa São Pio X, como sendo o conjunto e resumo de todas as heresias. O modernismo contava com muitos membros do clero e, mesmo após a condenação, permaneceram camuflados no seio da Igreja, pois seu objetivo era destruí-la por dentro, “implodi-la”, diferentemente dos hereges do passado, que, ao serem condenados, saíam da Igreja e passavam a combatê-la de fora. Nos tempos de aparente submissão à condenação à sua doutrina, os modernistas continuaram a difundir seus erros secretamente, de modo especial nos seminários, conseguindo, assim, subirem, aos poucos, até aos mais altos graus da hierarquia. Finalmente, um que compartilhava das “novas idéias”, após a morte de Pio XII, irá conseguir sentar-se na cátedra de São Pedro. A partir de então, paulatinamente, os maiores inimigos de Nosso Senhor e de Sua Igreja irão passar a ocupar os cargos mais importantes na Igreja, os cargos de comando. Os neo-modernistas passarão a ser chamados de “progressistas”.
Essa é a situação em que nos encontramos: a Santa Igreja está ocupada e dominada pelos seus maiores inimigos, pelos maiores inimigos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E qual é o erro fundamental do modernismo?
O Papa São Pio X, em sua encíclica Pascendi, descreveu magistralmente todo o organismo doutrinário do modernismo, e aí vemos que tudo se resume em um erro capital: para os modernistas, a fé consiste em um sentimento religioso. E desse princípio desastroso vem todo um conjunto de erros: agnosticismo, racionalismo, evolucionismo doutrinal, humanismo, a liberdade religiosa, o relativismo, o indiferentismo religioso, o subjetivismo, o naturalismo. Vem também em conseqüência o afirmar que todas[3] as religiões são boas, pois seriam todas nada mais que a expressão do sentimento religioso de cada homem. Por outro lado, este erro teológico procede de um erro filosófico: o idealismo.
Os sucessores de João XXIII também foram modernistas?
Infelizmente sim.[4]
Mas pode acontecer que o chefe visível da Igreja professe uma fé diferente da fé da Igreja? Defenda uma heresia?
Os que negam essa possibilidade dividem-se em dois grupos: os sedevacantistas e os indevidamente chamados “conservadores”.
a) os sedevacantistas, diante do fato notório do modernismo dos últimos Papas, asseveram que a sede de São Pedro está vacante, e que os homens que, sucessivamente, a estão ocupando não são Papas.
b) os “conservadores”, fechando os olhos à realidade dos fatos, procuram entender de modo católico até os mais estranhos ensinamentos dos últimos Papas, até suas mais extravagantes atitudes. E, em muitos casos, acabam “assimilando” esta ou aquela doutrina dos modernistas, quando não na teoria, ao menos na prática.
Nós, porém, não negamos a possibilidade de que um Papa caia em heresia e que tente destruir a Santa Igreja a ele confiada para regê-la. E nossa asserção se fundamenta nos seguintes princípios:
1º Quando um Bispo cai em heresia, ele continua a ser bispo de sua diocese até ser destituído pelo Papa. Portanto, a heresia, por si só, não faz um membro da hierarquia perder o cargo que possui na Igreja. Ademais, ninguém na terra está acima do Papa para poder destituí-lo.
2º A declaração de heresia formal só se faz quando, após advertência da autoridade competente, alguém permanece aferrado à sua heresia, após o que profere-se um decreto. Ora, quem na terra tem autoridade sobre o Papa para declará-lo herege formal?
3º Poucos foram os modernistas excomungados desde São Pio X até Pio XII, apesar de haver muitos deles na Igreja nesse período, pois o modernismo é uma heresia que admite muitos matizes e se manifesta de uma maneira muito ambígua. Se esses modernistas não foram expulsos da Igreja e mantiveram-se em seus cargos, por que os Papas modernistas não poderiam também continuar a ser Papas?
4º O fato de assumir ou perder a autoridade sobre uma sociedade é algo bem misterioso e, em geral, tido como fato consumado, desde que essa autoridade foi geralmente aceita por todos.
5º Ademais, seria imprudente tomar a posição de negar a possibilidade de um Papa ser herege, pois dando-se o caso, e tirando-se a conclusão de que ele não é Papa, isso implicaria muitas conseqüências graves, de difícil solução, como as seguintes: quem teria autoridade para o depor? Como seria eleito um Papa, por exemplo, não modernista, no caso de que a maioria dos Cardeais fosse modernista? Ou ainda: no caso de não haver mais Cardeais nomeados pelos Papas tradicionais, os nomeados pelo “falso Papa” não seriam verdadeiros Cardeais e, então, quem elegeria um novo Papa?
Visto que se trata de uma opinião, sem um veredicto definitivo da Igreja, o mais prudente é julgá-lo ser verdadeiro Papa, mas não segui-lo na direção falsa que imprime à “nova eclesiologia” nem colocar-se sob suas ordens.
Mas essa atitude não denota um espírito cismático?
De forma alguma. Aderimos de todo o coração à Roma eterna e a todos os Papas que precederam os Papas modernistas.
Estaríamos em cisma se negássemos que o Papa seja o chefe visível da Igreja, como fazem os ortodoxos; ou se negássemos ser verdadeiro Papa um Papa legitimamente eleito, como ocorreu no chamado “cisma do Ocidente”; ou se fizéssemos uma igreja paralela, nacional, como ocorreu na Inglaterra do século XVI ou na China comunista. Foram os modernistas que fizeram uma igreja paralela, dentro da própria Santa Igreja.
Teríamos um espírito cismático se nossa atitude fosse inspirada na rebeldia à autoridade da Igreja. Ora, o motivo que nos leva a resistir aos membros modernistas da hierarquia é, pelo contrário, nossa adesão ao Magistério da Igreja, que se opõe às doutrinas modernistas.
Os cismáticos chamados “Velhos Católicos”, do século XIX, também acusavam a Igreja de inovar sua doutrina e afirmavam serem eles os conservadores da doutrina tradicional da Igreja. Não se dá o mesmo atualmente com os tradicionalistas?
A semelhança é somente em aparência. Lutamos contra o modernismo, heresia já condenada pela Santa Igreja. Muitos atuais membros da hierarquia são conhecidamente defensores da teologia modernista; eles não fazem mais segredo disso. E toda a “nova eclesiologia” está fundada sobre os princípios modernistas.
Então, os senhores se julgam os “donos da verdade”...
Nenhum verdadeiro católico é “dono da verdade”, mas discípulo da Verdade. É na medida em que adere sem restrições às verdades reveladas pelo Divino Mestre, ensinadas por Sua Igreja, que o católico rejeita, com toda firmeza, qualquer erro doutrinário.
No entanto, a acusação de que os últimos Papas são modernistas é muito grave...
Sim, muito grave. E tanto mais grave quanto verdadeira.
E em que o senhor se apóia para afirmar isso?
Nos fatos. Nos fatos históricos, conhecidos e notórios.
Entre muitos fatos que poderíamos aduzir para provar a verdade dessa afirmação, citaremos só alguns, mas que, pela sua evidência, bastam.
João XXIII: Antes de ser Papa, era tido como suspeito de modernismo.[5]
Assumindo o pontificado, seu governo mostrou-se como um papado caracteristicamente de transição, tendo a marca do fim do “tempo das condenações”, quando os modernistas puderam “respirar tranqüilamente”, pois já não seriam “incomodados”.
Isso mostra claramente que João XXIII antes de ser Papa já simpatizava com as doutrinas modernistas e que, sendo Papa, continuou no mesmo caminho.
Paulo VI: Antes de ser Papa, na Secretaria de Estado, já manifestava o seu liberalismo.[6]
Após ser Papa, apoiou, no Vaticano II, a ala progressista, de maneira que esta chegou a lograr muitos triunfos na redação dos documentos deste Concílio.[7]
Por que esse apoio senão porque estava “do lado” dos modernistas? E este Papa empenhou-se em aplicar metódica e oficialmente as reformas que tinham como base a doutrina do Vaticano II.[8]
João Paulo II: Antes de ser Papa, era admirador de uma filosofia e de uma teologia de cunho modernista.[9]
Quando tornou-se Papa, em sua Encíclica Dominum et Vivificantem, chegou mesmo a defender uma verdadeira heresia: a de que a Encarnação fez com que todos os homens estejam unidos a Deus e, mais precisamente, em uma mensagem aos povos da Ásia, que pela Cruz e Ressurreição de Nosso Senhor cada pessoa (e, portanto, todos os homens) se torna filho de Deus, participante da natureza divina e herdeiro da vida eterna.[10] E muitas de suas ações e palavras manifestaram claramente que continuava a ser o pró-modernista de outrora. Dois exemplos: a) Ele elevou ao cardinalato a três modernistas cujas obras haviam sido condenadas por Pio XII, sem que eles hajam renunciado a seus erros modernistas. Por que “reabilitar” e promover modernistas senão porque pensava como eles, contrariamente a seu antecessor Pio XII?[11]; b) Ele pediu ao prefeito de Roma que cedesse gratuitamente um terreno para a construção de uma mesquita.[12] Qual a causa dessa sua atitude tão escandalosa senão porque ele estava imbuído da doutrina modernista? Pois, se a fé é apenas um sentimento religioso, porque impedir que os muçulmanos ou qualquer homem ponha em prática a sua “fé”?
Bento XVI: Antes de ser Papa, assim como seu antecessor, era admirador de uma filosofia e de uma teologia modernistas.[13] Chegou também a defender uma verdadeira heresia, negando que o sacrifício cruento de Nosso Senhor na cruz haja sido um sacrifício propiciatório.[14]
Quando tornou-se Papa não se retratou desse erro, e muitas de suas ações e palavras manifestam claramente que continua a ser o pró-modernista de antes.
Dois exemplos entre outros que poderia citar: a) Ele demonstrou sua aprovação à reunião de Assis, feita por seu antecessor,[15] reunião essa que contava com representantes de várias religiões falsas, chamadas todas elas para rezarem a seu “deus” (!?) pela paz. Que significa isso senão que ele (assim como João Paulo II) está imbuído da doutrina modernista? Pois, se a fé é apenas um sentimento religioso, cada qual pode rezar a “seu” deus conforme o “sente” em si; b) Em uma carta aos bispos do orbe, ele exprime uma doutrina tipicamente modernista: “todos aqueles que crêem em Deus procurem juntos a paz, tentem aproximar-se uns dos outros a fim de caminharem juntos – embora na diversidade das suas imagens de Deus (?!) – para a fonte da Luz: é isto o diálogo inter-religioso”[16].
No entanto, não devemos ficar falando mal dos nossos superiores. Muito menos do Papa.
Certamente. No entanto, quando um superior nosso, mesmo se for um Papa, por causa de seu modo de proceder ou de falar, é causa da condenação eterna de seus súditos, pode-se denunciar os seus erros, para que nosso próximo se dê conta do perigo em que se encontra.
No caso concreto que estamos tratando, se não nos dermos conta da terrível guerra na qual nos encontramos (guerra entre a luz e as trevas, entre a verdade e o erro), mais cedo ou mais tarde, acabaremos caindo nas insídias que os modernistas continuamente estão armando contra os verdadeiros católicos, para que estes entrem em sua “nova eclesiologia”. Isso é o que eles querem, porque agora eles estão com o poder nas mãos e estão bem conscientes que nos podem “absorver”.
No entanto, as autoridades romanas ultimamente querem acabar com essa guerra, querem legalizar a situação dos tradicionalistas, mas estes querem permanecer separados de Roma.
Não aceitamos essa oferta de legalização não porque queiramos ficar separados de Roma. Aliás, nunca nos separamos da Roma eterna e sim da modernista. A causa porque não aceitamos essas ofertas é porque sabemos muito bem (e os modernistas também o sabem muito bem) que a aproximação com os modernistas causa freqüentemente (e em muitos que considerávamos “cedros do Líbano”) diminuição no combate aos erros desses inimigos de Deus e da Igreja, e até aceitação de um ou mais pontos da doutrina deles. Aproximar-se deles “contagia”.
Ademais, é preciso notar como se processou a implantação do modernismo na Igreja após a morte do último Papa que o combateu. João XXIII foi um Papa de transição, dando “direito de cidadania” aos modernistas, ao mesmo tempo que deixava permanecer quase tudo tradicional na Igreja. Paulo VI foi o Papa da implantação metódica e oficial das reformas modernistas em todos os níveis na Igreja. João Paulo II foi o Papa da consolidação dessas mesmas reformas. Os modernistas estavam, agora, na tranqüila posse da situação. Já podiam “abrir os braços” aos “dissidentes” que não aceitaram tudo o que acontecera. Já podiam colocar os “tradicionalistas” numa situação oficial, incorporá-los à “nova eclesiologia”, sem perigo para eles, modernistas, de perderem a condução das coisas no sentido que eles tinham e têm em mira.
A missão do pontificado de Bento XVI é a de consolidar essa “unificação”.
Mas isso não é julgar mal a intenção do Papa?
Foi o próprio Bento XVI que disse que o motivo das discussões doutrinais que Roma começou a entabular com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X era a aceitação do Vaticano II (e, portanto, da Nova Missa, fruto dos princípios deste Concílio) e do magistério pós-conciliar.[17]
Mas que mal há na Nova Missa e no Vaticano II?
Vejamos só um aspecto da Nova Missa e outro do Vaticano II. Isso bastará para provar que os católicos não podem aceitá-los, ao menos em seu conjunto.
A Nova Missa:
O problema fundamental da Nova Missa não está no fato de ela ser celebrada em português e “de frente para o povo” ou com falta de reverência.
Mesmo se rezada em latim, “de costas para o povo”, o celebrante usando todos os paramentos, etc., a Nova Missa não deve ser celebrada pelos sacerdotes nem assistida pelos fiéis. Por que? Daremos um motivo entre vários outros que poderiam ser dados. Mas este é tão importante que basta para provar o que dizemos.
Mons. Bugnini, que foi quem elaborou a Nova Missa, declarou no Osservatore Romano que sua intenção, nessa elaboração, era agradar aos “irmãos separados” protestantes. Essa, portanto, foi a finalidade, a causa final, daquele que produziu a Nova Missa. E sua finalidade foi atingida? Infelizmente sim. Um pastor protestante declarou que agora já se podia celebrar a ceia protestante utilizando-se o missal romano e que isso era “teologicamente” (segundo a “teologia” protestante) possível! Sim, Mons. Bugnini alcançou seu objetivo: equiparou a Nova Missa ao rito protestante da ceia. E que isso quer dizer? Que há heresias na Nova Missa? Não. Ademais, a Missa é, por acaso, uma profissão de fé? Não exatamente, mas nosso modo de rezar deve estar conforme nosso modo de crer. A Igreja sempre entendeu assim, e os hereges também. É por isso que ao longo da historia os hereges que iam surgindo foram forjando para si cerimônias que manifestassem liturgicamente as suas heresias. A Nova Missa é a expressão litúrgica da mais terrível de todas as heresias: o modernismo.
Dom Fernando Rifan, fechando os olhos aos fatos mais evidentes, defende a Nova Missa, apoiando-se numa argumentação capciosa, capaz de enganar muitas almas. Ele argumenta da seguinte maneira:
A Igreja não pode decretar uma lei litúrgica que seja prejudicial às almas.
Ora, a Igreja decretou a Nova Missa.
Logo, a Nova Missa não é prejudicial às almas.
O erro desse silogismo está em sua “menor” (a Igreja decretou a Nova Missa), pois quando um Papa age de forma a tentar destruir a Igreja, a Igreja não está nele. Ora, o que há de mais destrutivo para a Igreja do que transformar-lhe a Missa em uma ceia protestante? Portanto, Paulo VI ao decretar a Nova Missa, não foi a Igreja que a decretou.
Dá-se algo de semelhante no exercício da autoridade legítima:
Os súditos, quando obedecem a um superior, obedecem a Deus, pois a autoridade vem de Deus. No entanto, quando um superior dá uma ordem contra a Lei de Deus, ele está fazendo um abuso de poder, e, então, se os súditos lhe obedecerem, não estarão obedecendo a Deus, pois neste caso o superior não estará investido da autoridade de Deus.
Aplicando esse princípio ao nosso caso, vemos que a Igreja não pode estar dando a sua autoridade a um Papa que ordena que se celebre uma Missa que é equiparada à ceia protestante, justamente porque esse Papa fez um abuso de poder.
O Vaticano II:
O Concílio Vaticano II contém vários documentos doutrinariamente inaceitáveis e em seu conjunto está impregnado de um espírito que não é católico.
Apenas um exemplo entre outros que poderíamos aduzir. Ele é de uma gravidade tão grande que basta para provar nossa asserção.
Desde o início do Concílio houve uma oposição entre dois Cardeais defendendo cada qual uma doutrina: um a doutrina católica da tolerância religiosa e o outro a doutrina liberal (assumida pelos modernistas) da liberdade religiosa. Ora, o Concílio Vaticano II, em seu documento que trata desse assunto, deu “ganho de causa” à doutrina liberal. E por mais que autores, como D. Basílio OSB e Dom Fernando Rifan, queiram tentar demonstrar que essa doutrina é católica e que está de acordo com vários pronunciamentos anteriores da Igreja, eles nunca poderão prová-lo diante dos seguintes fatos concretos:
A própria Santa Sé, em aplicação do ensinamento do Vaticano II, procurou que vários países deixassem de ser oficialmente católicos.[18]
Essa atitude é inteiramente contrária a tudo o que a Igreja sempre ensinou.
Neste ponto Bento XVI está também de acordo João Paulo II.[19]
Assim, a ação deles é realmente contra o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.[20]
[1] Este artigo está feito à maneira de uma entrevista e por isso o “entrevistado” fala simplesmente o que sabe sobre o assunto, sem reportar-se a documentos. Mas colocamos em notas de rodapé algumas referências de textos que podem ser consultados, quando falamos dos Papas recentes.
[2] Pretendo usar o plural majestático para não ter que repetir: “eu, eu, eu” e também porque o que exponho aqui pode ser a expressão do que outros também pensam.
[3] E não somente a única verdadeira, a Santa Igreja Católica.
[4] O modernismo se apresenta de uma maneira ambígua e com muitos matizes. Se não se pode dizer que esses Papas são modernistas em toda a extensão da palavra, eles são, no mínimo, liberais que fazem parte do movimento modernista.
[5] Cf. Congar, ou a Nova Teologia (cadernos Semper) pág. 26-27
[6] Cf. Marcel Lefebvre (por D. Tissier de Mallerais) pág. 247-248. Ver também Do Liberalismo à Apostasia pág. 240-241.
[7] Cf. Do Liberalismo à Apostasia pág. 240-241.
[8] Cf. Do Liberalismo à Apostasia pág. 244-245 e 249-250.
[9] Cf. Cien años de modernismo (pelo Pe. Bourmaud) pág. 396-397.
[10] Cf. Sim Sim Não Não (edição brasileira) nº 174, pág. 8 e Marcel Lefebvre (por D. Tissier de Mallerais) pág. 557.
[11] Cf. revista Iesus Christus nº 134, pág. 5.
[12] Cf. revista Iesus Christus nº 134, pág. 17.
[13] Cf. revista Semper nº 77, pág. 1-6. Ver também Cien años de modernismo (pelo Pe. Bourmaud) pág. 383.
[14] Cf. Conferência de D. Tissier de Mallerais dada no Simpósio Pascendi (9, 10 e 11 de novembro de 2007, Paris) em www.co-redentora.com.br
[15] Cf. revista Tradición Católica nº 215, pág. 18-21.
[16] www.vatican.va/português/cartas/cartas2009/10 de março de 2009
[17] “Os problemas, que agora se devem tratar, são de natureza essencialmente doutrinal e dizem respeito sobretudo à aceitação do Concílio Vaticano II e do magistério pós-conciliar dos Papas. (..) Não se pode congelar a autoridade magisterial da Igreja no ano de 1962: isto deve ser bem claro para a Fraternidade.” cf. www.vatican.va/português/cartas/cartas2009/10 de março de 2009
[18] Cf. Do Liberalismo à Apostasia pág. 187, 252 e 254.
[19] Cf. Do Liberalismo à Apostasia pág. 254-255.
[20] Cf. Do Liberalismo à Apostasia pág. 256.
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