21/09/2009

Dom Williamson e as discussões difíceis (Parte III)


Duas objeções ao próprio princípio da Fraternidade São Pio X entrando, possivelmente em breve, nas discussões doutrinais com as autoridades da Igreja em Roma, ajudam a enquadrar a natureza, propósito e limitações de tais discussões. A primeira objeção diz que a Doutrina Católica não é para ser discutida. A segunda diz que nenhum Católico pode presumir discutir com representantes do Papa em pé de igualdade. Ambas as objeções aplicam-se em circunstâncias normais, mas as de hoje não são normais.

Quanto a primeira objeção, é claro que a imutável e imutada doutrina Católica não é discutível. O problema é que o Vaticano II empreendeu mudá-la. Por exemplo, pode, ou deve um Estado Católico tolerar a prática pública de falsas religiões? A Tradição Católica diz "pode", mas apenas para evitar um mal maior ou alcançar um bem maior. O Vaticano II diz "deve", em todas as circunstâncias. Mas se Jesus Cristo é reconhecivelmente o Deus encarnado, então nada além de "pode" é verdadeiro. Pelo contrário, se "deve" é verdadeiro, então Jesus Cristo não pode ser necessariamente reconhecível como Deus. O "pode" e o "deve" estão distantes como ser Jesus Cristo Deus por divina natureza ou por escolha humana; ou seja, entre Jesus ser, ou não ser, objetivamente, Deus!

Ainda que as autoridades Romanas afirmem que a Doutrina do Vaticano II não representa ruptura com o dogma Católico, mas sim seu desenvolvimento contínuo. A menos, então - tomara Deus que não!-- que a FSSPX abandone também o dogma Católico, ela não discutirá com essas autoridades se Jesus é Deus, não se trata de por em discussão a doutrina Católica, mas sim esperar persuadir quaisquer Romanos com ouvidos abertos que a doutrina do Vaticano II é gravemente contraposta à doutrina Católica. A esse respeito, mesmo que o sucesso da FSSPX se mostrasse mínimo, ainda se consideraria que fora seu dever dar testemunho da Verdade.

Mas os Romanos podem replicar: "Nós representamos o Papa. Como ousam presumir uma discussão conosco?" É a segunda objeção e para todos aqueles que pensam que a Roma Conciliar está na Verdade, a objeção parece válida. Mas é a Verdade que faz Roma e não Roma que faz a Verdade. Nosso Senhor mesmo repetidamente declara no Evangelho de S. João que sua doutrina não é sua mas de Seu Pai(Ex. Jo. 7, 16). Mas se a Doutrina Católica não compete a Jesus mudar, quão menos competirá a seu Vigário mudar, i.e., o Papa! Se então o Papa, por seu livre-arbítrio dado por Deus, escolhe se apartar da Doutrina Católica, no tocante a essa medida ele depôs seu status de Papa e nesse tocante apenas -- ele continua o Papa -- ele se coloca e/ou seus representantes abaixo de quem permanecer fiel à Doutrina do Divino Mestre.

Portanto o mesmo status na discussão com o Papa reside na medida em que ele se aparta da Verdade, qualquer Católico a assume, sendo fiel à Fé. Como de maneira célebre disse uma vez Monsenhor Lefebvre diante das Autoridades Romanas que o interrogavam por sua dissensão com o Papa Paulo VI, "Eu que devia estar interrogando vocês!" Defender a Verdade de Deus Pai é o orgulho e a humildade, a vocação e a glória da pequena FSSPX do Arcebispo. Se as discussões com Roma significarem o menor perigo que seja da FSSPX ser infiel à sua vocação, então não deveria haver discussões.

Kyrie Eleison.

Londres, Inglaterra

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